quinta-feira, 19 de novembro de 2009

i need to get away, i need it to be easy

O rosto inchado, o queixo umedecido e as mãos imersas em lágrimas, os soluços em um peito agora sem coração, os pulsos sangrados e a faca que usara para tentar aliviar a dor de dentro deitada sobre a cama com um colchão não muito confortável. Algumas partes da lâmina já estavam limpas – as lágrimas faziam um bom trabalho – e o lençol agora era inundado por sangue. Uma escapatória simples. Rápida. Covarde. Sem vergonha nenhuma do que as pessoas iriam pensar. Deixe que pensem, ela falou com seu edredom estampado de zebra, em uma voz alta, suspirada, arrastada, tudo não vai passar de uma buraco fundo e escuro daqui a alguns minutos... Assim que eu conseguir fazer todo o meu sangue ir embora. Lentamente. E sentir como é perder a vida em alguns minutos. Sem vergonha nenhuma. Sem ninguém pra criticar. Sem ninguém pra julgar. Sem ninguém pra aconselhar. Sem o meu amor pra me reprovar. Sem me despedir de ninguém. Sem desejar uma última boa noite. Nem pra mim mesma. Os seus olhos se fecharam lentamente. E a melancolia de antes se tornou em sonolência. Ela virou pro lado e pegou o seu celular. Digitou o que conseguiu e escreveu um bilhete de adeus. Para a única pessoa que a interessava no mundo.
Eu sou uma covarde. Uma idiota. Não tive coragem o suficiente pra continuar. Eu não mereço você. Agradeço-te, do fundo do meu coração, por quase um ano. Um ano de felicidade. Da felicidade mais pura e mais especial que alguém já me proporcionou. Mas não fique triste, meu amado. Tristeza não serve pra nada. Eu resolvi dar um fim no que já deveria ter acabado há muito tempo. E lembre-se. Eu te amo. Mais que a minha vida. Mas a dor era demais. Só saiba disso. E continue sorrindo. Você é lindo.
Sem vergonha do que pensariam, sem saber as proporções do que faria, sentiu a vida ir se dissolver assim como um floco de neve se dissolve na primeira manhã de primavera.